Ano: 2015
Estudio: Sunrise
Diretor: Tatsuyuki Nagai
País: Japão
Episódios: 50
Duração: 24 min
Gênero: Mecha/Guerra/Sci-Fi/Drama








Como você, leitor, já deve muito bem saber, isso deu tremendamente certo. Gundam se tornou uma das maiores franquias japonesas já vista, gerando continuações, spin-offs, filmes, jogos, mangás, livros e tudo mais ao que se tem direito. Depois de um tempo, virou uma prática comum a série se reinventar desenvolvendo obras que não se ligavam a timeline do Gundam original, mas sim em universos novos e auto-contidos, que por sua vez também geravam as próprias sequências e continuidades.
Iron-Blooded Orphans se encaixa nesse modelo, sendo a 14ª série de TV principal da franquia. Na época de seu lançamento, foi anunciado que teria a história planejada e o roteiro escrito por Mari Okada, mais conhecida por seu trabalho em melodramas romanticos como “AnoHana” e “Toradora!”, algo que plantou muitas dúvidas e ceticismo nos fãs. Mas, ao longo da série, isso se mostrou como um grande acerto que fez de IBO uma das séries Gundam mais humanas e intimistas até agora, mesmo que disso venha também a sua fatia generosa de falhas.
Em um futuro distante, ocorreu no mundo uma espécie de terceira guerra mundial chamada de “Guerra da Calamidade”, entre as colônias espaciais e o governo da Terra, que perdurou por muitos anos e causou inúmeras e traumáticas baixas para a população humana. Uma organização chamada Gjallarhorn surgiu nestes tempos caóticos e, com a liderança e visão de um homem chamado Agnika Kaieru, conseguiram conter a guerra e alcançar a paz. Depois disso, o mundo se re-dividiu nos chamados “blocos econômicos” e Gjallarhorn se tornou algo como uma “polícia mundial”, com sua autoridade quase suprema e poder militar absoluto sobre quase tudo e todos.
Trezentos anos depois, Marte é colonizada e já se torna o lar de muitos seres humanos. Contudo, Marte ainda depende do governo da Terra para sobreviver economicamente, gerando um cenário de extrema opressão e pobreza aos marcianos, terreno propício para todo o tipo de injustiça.
Na cidade de Chryse, uma garota nobre chamada Kudelia Aina Bernstein decide contratar a empresa de segurança privada Chryse Guard Security (CGS) para escoltá-la até a Terra, onde pretende negociar pela independência de Chryse e, quem sabe, do resto de Marte. O problema é que a CGS já é uma empresa podre por dentro, pois grande parte de seu contingente consiste de crianças e adolescentes órfãos que foram tirados das ruas para serem praticamente utilizados como mão-de-obra escrava.
Quando um oficial corrupto da Gjallarhorn ataca a CGS com o interesse de matar Kudelia e impedir qualquer movimento pela independência de Marte, os adultos da CGS mandam as crianças para a linha de frente, numa tentativa de escapar enquanto elas servem de distração. Neste meio-tempo, um dos jovens envolvidos, chamado Orga Itsuka, finalmente organiza uma rebelião interna contra os adultos e toma controle da CGS. Seu melhor amigo, Mikazuki Augus, é um exímio piloto de Mobile Suits capaz de controlar incrivelmente um dos mais recentes achados da CGS: Gundam Barbatos, um “Gundam frame” utilizado na Guerra da Calamidade.
Depois de repelirem com sucesso o ataque de Gjallarhorn, Orga e todos os outros órfãos decidem formar a sua própria empresa de mercenários, chamada “Tekkadan”. Seu primeiro trabalho: escoltar a princesa Kudelia Aina Bernstein até a terra. Mas isso não vai ser nada fácil, considerando que Gjallarhorn vai tentar impedi-los de todas as maneiras possíveis no meio do caminho.
Dividida em duas temporadas de 25 episódios cada, Gundam IBO conta a história destes jovens soldados que, através da Tekkadan, anseiam por uma vida melhor e um lugar ao qual pertençam. Apesar de conseguirem superar muitos obstáculos com sua determinação e força de vontade, sua ingenuidade logicamente os torna vulneráveis a toda a podridão e corrupção de interesses políticos que simplesmente não querem que essas crianças se tornem alguém na vida.
Muito é discutido em IBO: o que seria a verdadeira justiça, as origens da opressão que dão luz a organizações como Tekkadan, se os fins justificam os meios, o fardo de liderar e a busca por ideais para se sustentar uma vida, para citar alguns dos tópicos que permeiam não só esta série mas toda a franquia Gundam. Alguns destes questionamentos são muito bem trabalhados e culminam em momentos emocionais gratificantes. Outras, nem tanto.








Isso sem falar nos problemas estruturais do enredo em si. Como a primeira temporada gasta muito tempo construindo as bases para o que vem depois, o resto da história fica com uma sensação de estar indo a um passo mais apressado que o ideal, especialmente na segunda temporada. O grande antagonista da segunda temporada não é nem ao menos mencionado na primeira, alguns personagens novos aparecem apenas para morrerem logo em seu início e a maneira como a situação se escala em uma última batalha épica me pareceu pular alguns passos para que a série pudesse acabar logo, como se tivessem percebido que tinham pouco tempo para contar a história que queriam a essa altura do campeonato. Como resultado, certos detalhes importantes são simplesmente mal explorados ou ignorados no meio do caminho, especialmente em relação à história de fundo. Afinal de contas, quem exatamente foi Agnika Kaieru e o que fazia dele um líder nato e influente? Ele nem ao menos aparece durante a série toda. O que exatamente causou a Guerra da Calamidade e porque foi tão ruim? “Mobile Armor”, a suposta pior invenção em detrimento da Guerra da Calamidade, só apareceu em um arco e pronto? São coisas assim que criam certas pontas soltas que impedem o enredo de se mostrar mais coeso e no controle da história que quer contar.
Como já esperado da Sunrise e de uma produção Gundam, IBO possui um ótimo pacote visual. A animação é, no geral, muito bem feita e fluida, especialmente nas lutas espaciais onde os robôs gigantes se movem de maneira rápida e explosiva, com poucos momentos de queda na qualidade geral. O design de personagens altamente estilizado é um pouco estranho, a princípio, dando uma aura mais infantil ao visual, mas me vi surpreso quando percebi que não só havia me acostumado, como também aprendi a apreciar as aparências diferenciadas de cada personagem, com muita atenção aos detalhes de seus penteados, expressões faciais e afins. Ninguém tem a mesma cara e isso é sempre muito bem vindo. Só me decepcionei com o design dos mechas no geral. Não que eles sejam particularmente feios, mas até mesmo alguns dos Gundams tem aparências genéricas e esquecíveis.
A trilha sonora é outro ponto onde acertaram em cheio, com aberturas grudentas como “Raise Your Flag” (Men with a Mission), “Rage of Dust” (Spy-Air) e “Fighter” (KANA-BOON), isso sem falar nas músicas de fundo imediatamente reconhecíveis, capazes de amplicar qualquer momento de ação ou emoção.
No final das contas, Gundam: Iron-Blooded Orphans é um ótimo anime, apesar de suas falhas o impedirem de se elevar ao status de excelência. Os personagens são humanos e carismáticos, os conflitos políticos e suas resoluções muito realistas (tanto para o bem quanto para o mal) e sua clara preocupação em tentar escapar do óbvio fazem desta uma experiência no mínimo interessante de se ver. É só aguentar seu começo longo e mediano.
Lucas Funchal
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