Alternativos: Serohiki no Goshu, Goshu the Cellist
Ano: 1982
Diretor: Isao Takahata
Estúdio: OH Production
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 70 min
Gênero: Drama / Musical / Fantasia


Uma coisa que atrapalha e muito os fãs de animação são os diversas nomes pelo qual uma mesma obra é conhecida. Nomes ingleses costumam ser os mais conhecidos, e adaptações e modificações no nome de personagens baseados na forma de falar são comuns. Quem assistiu a Death Note e leu o mangá sabe que o nome do personagem principal de Raito mudou para Light, entre vários outros exemplos. Neste filme, o personagem é conhecido tanto como Gauche como Goshu. Manterei Gauche, por ser este o som do nome do personagem principal. E fica aí a dica do nome duplo pra quem quiser procurar mais informações e não ficar perdido.
Terminando os devaneios, Gauche o Violoncelista foi adaptado de um famoso poema japonês de autoria de Kenji Miyazawa. Um dos empecílhos para a produção eram justamente os fãs mais entusiastas, que não gostavam da idéia de ver uma de suas obras prediletas adaptadas. Mas o anime foi, merecidamente, um sucesso de crítica e público.
Os cenários são todos bucólicos, mostrando um Japão rural que é comum nas obras do Ghibli e difícil de imaginar nos dias de hoje. O bucolismo realmente é um dos pilares do filme, com uma representação forte da natureza e de um estilo de vida simples. Os personagens são bem coloridos e bem simplificados, parecendo mal acabados mesmo. As sombras são mal-feitas, mas as expressões faciais são boas e conseguem passar bem seus sentimentos. Os cenários são completamente diferentes dos personagens, com tons pastéis e sem nenhuma interação. São cenas bonitas, mas paradas, que parecem ter sido desenhadas com giz de cera ou aquarela. O resultado é pobre, mas harmonioso, com poucas cenas que se destacariam sem a trilha sonora.



O roteiro tem realmente ares líricos. As repetições (como os animais que chegam cada um em uma noite) e as mudanças abruptas de temperamento são bem típicas de poemas, e foram muito bem transportadas para as telas. Não encontrei o poema pra ler na internet: apesar do autor ter morrido há um bom tempo e de suas obras terem caído em domínio público, só consegui encontrá-lo no original em japonês. Por isso não posso falar de uma suposta fidelidade do roteiro, mas ele se desenvolve muito bem. A curta duração (cerca de uma hora) impede o filme de ficar chato e maçante, e a música contribui para empolgar. Os temas são simplistas, parecidos com fábulas, e os personagens muitas vezes parecem estar encenando uma peça para o espectador. Não que isto seja algo ruim, pois o carisma dos personagens realmente é gigante.
Gauche toca em uma pequena orquestra, quando o cinema ainda era mudo e essas bandinhas faziam a trilha sonora. Mas ele não é um bom violoncelista, e frequentemente o maestro chama sua atenção. Animais começam então a aparecer em sua casa, um por noite, e pedindo favores. Contar o que pedem é de certa forma um "spoiler", então me limitarei a citar os animais: um gato, um cuco, um guaxinim e uma família de ratos. Todos eles conversam com o protagonista, e são muito simpáticos. Com eles, Gauche aprende pequenas lições, noite após noite.
A parte musical é muito boa. Tenho alguns CDs de música clássica, mas não entendo nada de música. Posso garantir que são muito belas, gostosas de se escutar e casam muito bem com o filme. São músicas famosas, de grandes e aclamados compositores. É o tipo de anime que, ao acabarmos de se assistir, vamos logo procurar a OST. Os efeitos sonoros são bem executádos, fora o "cuco" do cuco, que por ele falar normalmente, ficou muito esquisito. Mas os barulhos de chuva e respingos foram perfeitamente reproduzidos. A dublagem é muito boa e inspirada também, indo do trivial ao melodramático e transmitindo perfeitamente as emoções dos personagens. Fugindo completamente do padrão do Ghibli feito por Joe Hisaishi, e tão bom quanto.
Gauche The Cellist não é tão bom quanto os filmes do Ghibli. Tem alguns defeitos, embora nesse caso a soma dos fatores seja maior que o produto. O filme tem um grande carisma, e foge bastante dos padrões de roteiro. Vale a pena ver para todos, embora os fãs ardorosos do Isao Takahata (como eu) possam se decepcionar um pouco.
Heider Carlos
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