Ano: 1986
Diretor: Jimmy Murakami
Estúdio: Meltdown Productions / TVC London
País: Reino Unido
Episódios: 1
Duração: 80 min
Gênero: Drama / Psicológico


E é de se admirar as pérolas que surgiam destas situações. E do pessoal que eles conseguiam reunir, em especial para trilha sonora. "When The Wind Blows" tem a canção-tema composta e cantada pelo David Bowie. O resto da trilha sonora foi escrita e executada por Roger Waters (do Pink Floyd), com algumas poucas exceções. A simples presença destes dois artistas já me convenceria a assistir qualquer coisa. Licenciar músicas deles hoje em dia provavelmente teria um custo absurdo. Colocar eles para compor como fizeram então é sonhar alto demais.

"When The Wind Blows" foi lançado em 1986, adaptação de uma história em quadrinhos de mesmo nome produzida em 1982. Quem adaptou o roteiro foi o próprio escritor, Raymond Briggs, no qual conta a história de James e Hilda Bloggs, um casal de velhinhos ingleses vivendo durante a guerra fria. A tensão dessa guerra iminente afetou até a vida deles, moradores de uma bucólica casinha rural.

James usa os folhetins do governo (muitas vezes contraditórios) para tentar construir um abrigo para protegê-los das bombas nucleares. São um casal bem fofinho e carinhoso, vivendo em um mundo que se tornou um lugar muito mais complicado do que aquele em que cresceram. Eles se lembram dos tempos durante a Segunda Guerra Mundial, quando eram crianças, com saudades. Tem uma cena linda deles se lembrando dos abrigos antibombas, que começa como animação e depois passa para filmagens reais de crianças durante aquela época. Elas sorriem e brincam: em suma, são crianças.

A mesma inocência que os protegia antes os protege agora. A diferença vem de sua fonte. Se eles eram pequenos demais para entender os perigos da guerra quando crianças, hoje uma mistura de desinformação e ignorância faz com que não entendam a gravidade da situação. A fé de James no governo é absoluta, mesmo que ele nem saiba exatamente quem está por trás do governo, ou dos inimigos, nem o que são computadores, confunda frequentemente russos com alemães, etc. Em suma, por mais que tente se informar, ele está tão perdido agora quanto quando criança.

Até que a bomba cai.
James e Hilda sobrevivem ao impacto dos ventos e do calor dentro de seu abrigo. E de repente estão sozinhos em um mundo devastado. Não sabem ao certo o que é radiação nem seus efeitos. E passam a encarar o presente com esperança (ou estariam em processo de negação?) que tudo vai ficar bem.



Há cenas todas reais e todas de animação também, aqui e ali. As cenas reais são normalmente sobre a guerra. Cumprem seu papel. Já as de animação pura são fantásticas, e a integração com a música do Roger Waters deixa tudo melhor. A cena da bomba caindo é de partir o coração. Os sonhos de Hilda e James – com um estilo mais surreal e traços mais desleixados e inacabados - são lindos e tocantes e dão uma nova dimensão aos personagens.
"When the Wind Blows" poderia ser um filme live action? Sim, ele é todo calcado na realidade. Mas assim ele perderia muito do impacto que ser uma animação lhe deu. Está na mídia (ou no meio das mídias) perfeita para ele. É um filme memorável, e um ótimo remédio para a dose de violência idealizada que vemos no dia-a-dia.
Heider Carlos
É engraçado como algumas historias nascem pra determinado tipo de mídia, é exatamente o que você disse, poderia ser um live? poderia sim. Porém o contraponto de ser uma história tão pesada ilustrada em uma forma "infantil", dá magia em toda a série.
ResponderExcluirÓtima review. Não desistam das postagens, eu entro toda semana pra ver se tem algo novo.
Olá, Pablo.
ExcluirExatamente, é mais ou menos o que acontece com "Gen - Pés Descalços": um "live-action" poderia ser impactante, sim, mas o fator mangá/anime tornou a obra muito mais impactante, talvez justamente pelo fato de uma mídia usualmente associada a obras infantis ter sido usada para narrar algo tão chocante.
Muito obrigado pela mensagem, e pode deixar que não desistiremos das postagens: o dia-a-dia tem sido muito corrido para todos, mas vamos manter o site vivo e ativo, custe o que custar. :)
Grande abraço,
Marcelo Reis